Euclidense é citada pelo fantastico em caso de adoções irregulares

19/11/2012 17:38
 
 Fonte: Fantastico

 

 

 

O Fantástico desvenda mais um capítulo do escândalo de adoções ilegais no sertão da Bahia. A prática de tirar as crianças das famílias já dura mais de dez anos. Esta semana, a investigação da equipe do programa encontrou novos casos na mesma região.


Euclidense é citada pelo fantastico em caso de adoções irregulares

 


As certidões de nascimento e uma foto. São as únicas lembranças que uma mãe tem dos filhos gêmeos. Eles foram dados dez anos atrás. 

“Aos quatro meses de grávida, ela me chamou pra trabalhar lá, pra terminar a gestação e ela fazer o acompanhamento. Aí ela perguntou se eu queria dar as crianças, que são gêmeos”, disse Marizam Costa, mãe. 

“Como é o nome dela?”, perguntou a repórter. 

“Da mulher que pediu pra dar? É Neide”, respondeu Marizam. 

Foi Neide que apresentou um casal de São Paulo a Marizam, no dia do parto. 

“Foram até o hospital e levaram as crianças de lá mesmo pra casa da Neide”, contou Marizam. 

“Você achava que ia ver as crianças?”, questionou a repórter. 

“Eu achei porque me prometeram. Me prometeram que eu ia ver, que ia mandar foto direto, que ia me ligar. E até hoje não tenho notícia das crianças”, explicou Marizam. 

A mulher apontada como intermediária é citada em pelo menos dois outros casos de doações de crianças em Euclides da Cunha. Um deles, de irmãos gêmeos também. O outro, de um menino. Em todos, a mesma história: mães pobres que dão os filhos recém-nascidos, atraídas pela promessa de um futuro melhor pra eles. 

Por telefone, a equipe conversou com a mãe que deu o filho, em 2004. 

“Eu não ‘tava’ tendo condições, ‘tava’ passando necessidade. Aí eu dei”, ressaltou a mãe. 

“A senhora deu pra quem?”, questionou a repórter. 

“Não sei se a senhora conhece - Neide do Lula”, respondeu ela. 

O Fantástico localizou a dona de casa Neide de Jesus Carvalho, que também mora em Euclides da Cunha. Ela admitiu que apresentou as mães biológicas a pais adotivos. 

“As pessoas me procuravam. Aí pedia: ‘Neide arruma uma pessoa pra eu dar meus filhos’”, afirmou ela. 

“Mas não teve um processo de adoção?”, perguntou a repórter. 

“Teve, junto com o juiz”, contou Neide. 

“Você garante que o processo foi todo?”, quis saber a repórter. 

“Com certeza, minha amiga, não tem porque mentir”, respondeu Neide. 

O Fantástico teve acesso, com exclusividade, ao processo de adoção dos gêmeos de Marizam. Um processo cheio de irregularidades, segundo o atual juiz de Euclides da Cunha, Luís Roberto Cappio. 

Já no dia seguinte ao parto, os autos dizem que houve uma audiência com a presença de Marizam. Ela nega. 

“Você entrou no fórum?”, perguntou a repórter. 

“Não. Não porque eu fiz uma cesariana e não podia subir as escadas”, respondeu Marizam. 

No fim do termo de audiência, aparece uma assinatura de Marizam. 

“Você reconhece essa assinatura?”, perguntou a repórter. 

“Não, eu não participei de audiência nenhuma”, ressaltou Marizam. 

“Você não foi ouvida em momento algum por um juiz, com a presença de um promotor público?”, quis saber a repórter. 

“Não”, completou Marizam. 

No mesmo dia 23 agosto, a guarda dos gêmeos foi dada ao casal que veio de São Paulo. Neide aparece como testemunha no processo. 

“Tudo indica que alguns dos atos processuais foram forjados. Acho que é mais grave do que aqueles que já foram publicados, denunciados, já chegaram ao nosso conhecimento”, afirmou o juiz Luís Roberto Cappio. 

O juiz se refere aos casos que começaram a ser revelados pelo Fantástico há mais de um mês. Casos como o de Silvânia e Gerôncio que tiveram cinco filhos tirados para serem doados. 

Na terça-feira, a intermediária desse caso, Carmen Topschall, foi até a CPI do Tráfico de Pessoas, em Brasília. Conseguiu um habeas corpus para permanecer em silêncio. 

Novamente essa semana, o Fantástico tentou contato com o juiz Vitor Bizerra, responsável pelo processo que retirou os filhos de Silvânia e Gerôncio. O telefone toca até cair na caixa. 

Os nomes do juiz e do promotor que aparecem no processo de Marizam não podem ser divulgados. O caso será encaminhado ao Ministério Público Estadual e ao Conselho Nacional de Justiça, que estiveram essa semana na região, para investigar os casos. 

“Eu quero ver, quero notícias, vai que os meus filhos não estão bem”, disse Marizam.


 

Fonte: https://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1682044-15605,00-LOCALIZADA+MULHER+SUSPEITA+DE+INTERMEDIAR+ADOCOES+ILEGAIS+NA+BA.html